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... aqui a vossa amiga vai desanuviar durante uns dias, vai comer que nem uma enfardadeira, vai beber em idêntica medida, vai estar ao quentinho da lareira, vai testemunhar a felicidade do puto ao receber o que pediu (portou-se lindamente na escola, por isso, merece-o), provavelmente, também vai encontrar algo no sapatinho, enfim, vai estar em paz e com quem mais ama...
... vai estar feliz, mas também se vai lembrar de quem não conhecerá a mesma realidade, nem no Natal, nem em altura nenhuma do ano, não que isso lhe tire um décimo da felicidade, porque não a toca diretamente e porque também nada pode fazer que altere a vida daqueles que sofrem na Síria, mas o simples facto de os lembrar não a faz sentir tão... indiferente... e grata, muito grata porque apesar de viver num país que lhe ficou com parte dos rendimentos, apesar de lhe terem aumentado os impostos, apesar de ainda haver tanto onde aplicar o dinheiro desses impostos, pelo menos vive num país que não estoira tudo em bombas, balas e artilharia de toda a espécie provocando um sofrimento atroz ao seu povo... olhem, um Feliz Natal, é o que vos desejo, do fundo do coração.
... entro na euforia coletiva de partilhar vídeos e imagens virais chocantes nas redes sociais, porque não creio que isso mude seja o que for e porque às vezes essas partilhas são tão banalizadas que o efeito pretendido acaba por esmorecer e desaparecer. No ano passado, a imagem do corpo inerte do menino sírio que o mar devolveu à terra chocou-me como me choca a morte de qualquer criança. A imagem multiplicou-se até à exaustão na internet e na comunicação social, chamaram-lhe o símbolo do horror da guerra... para mim, representou apenas a consequência mais óbvia de uma guerra, a morte de inocentes, como tantas guerras na história da humanidade já demonstraram. Hoje, ao ver o novo vídeo viral, aprendi que a guerra não só mata inocentes como também lhes rouba a alma, e um corpo ainda que vivo mas esvaziado da sua alma não chora, não grita, não desespera... partilho desta vez porque as imagens me mostraram que é possível um pequeno inocente morrer e continuar a respirar, a mover-se, a fitar a câmara que o filma, a levar a mão à cabeça ensanguentada, olhar para ela e simplesmente limpá-la no estofo do banco como qualquer criança limpa a mão que sujou a comer um gelado...
"Mas as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor?!... Porque padecem assim?!..."