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... sem o teu sorriso, sem o teu abraço, sem as tuas gargalhadas, sem as tuas implicâncias, sem as nossas conversas, sem os nossos arrufos, sem as nossas refeições em que tu fazias questão de me servir o melhor vinho, sem as tuas anedotas, sem as tuas lágrimas perante as minhas lamechices, sem as tuas teimosias, sem as tuas larachas, sem as tuas histórias, sem o teu colo...
... estive com os teus camaradas, companheiros de guerra, ouvi com atenção todas as histórias que eles viveram contigo e revivi-te nessas memórias, quase que posso jurar que estiveste lá connosco, nas minhas gargalhadas, ouviam-se as tuas. Foi um dia intenso cheio de emoção, um dia em que te senti mais perto.
No primeiro 25 de Abril sem ti, espero que onde quer que estejas a Liberdade seja uma constante.
... Festas, chegou o momento que mais ansiei: desmontar a árvore de Natal e arrumar a tralha toda. Já é conhecida a minha aversão ao Natal, mas por esta altura do ano era muito comum a decoração natalícia se manter intacta por pura preguiça, cheguei inclusive a levar a árvore por desmontar para a garagem onde ficou o ano inteiro tal e qual como tinha sido decorada e no Natal seguinte foi só pegar nela e voltar a trazê-la para cima. Este ano, no dia imediatamente a seguir ao dia dos Reis, num momento a sós e com a maior das descontrações, retirei toda a decoração e digo-vos, talvez por este Natal em concreto me tenha sido ainda mais odioso devido à razão que já conhecem, a cada enfeite que guardava, sentia uma sensação de alívio e paz, senti verdadeiro prazer. Já passou e daqui por 11 meses repetirei o ritual...
... faria hoje 71 anos. Hoje acordaria cedo para lhe ir comprar um bolo de aniversário e um livro sobre História contemporânea ou sobre a guerra no Ultramar, livro que ele devoraria sofregamente. Hoje iríamos almoçar ou jantar, fora ou em casa, e brindaríamos à vida com um bom vinho, longe dos tempos em que tinha a mania que sabia fazer vinho e “obrigava-me” a beber a zurrapa que produzia, e que eu estoicamente tragava, mentindo-lhe piadosamente que sim, que era muito bom. Falaríamos sobre as notas do puto na escola, sobre a prestação do FCP na liga dos campeões, sobre o Trump, Israel e a Palestina. Mas, hoje não vou fazer nada disso, vou visitá-lo ao cemitério e sussurrar-lhe as minhas saudades. Hoje é o Dia da Imaculada Conceição, dia em que chegou ao mundo e foi a 15 de agosto, Dia da Assunção da Nossa Senhora, que partiu. A sua vida começou e acabou ligada à mãe de Jesus. Foi uma coincidência, é certo, mas nem imaginam como ele adorava este tipo de coincidências.
Tenho saudades tuas...
... um mês que estive pela última vez com o meu pai, era domingo e convidei-o a ele e à minha mãe para almoçar a bela da caldeirada tão do seu agrado, comeu e bebeu com a mesma satisfação que sempre lhe conheci, no entanto, falou pouco e isso foi notado por todos os que estavam à mesa, desde há algum tempo que se dizia mais cansado... fez ontem um mês que tive a última oportunidade de lhe dizer o quanto me orgulho de ser sua filha, não disse... faz amanhã um mês que perdi para sempre toda e qualquer oportunidade de lhe dizer o que quer que seja. E eu ainda não acredito...
... assim da mesma forma inesperada, fria e crua com que escrevo este post. Morreu na rua, sozinho, tombou na terra gravilhada golpeado por um AVC fulminante que não lhe deu sequer um minuto para se despedir da vida que tanto amava. Nesse dia, o meu pai saiu à rua para a sua já habitual caminhada matinal, longe de saber que a morte sairia também à rua indo ao encontro dele naquele caminho entre canaviais...
... quem diria que o Mestre que tanto idolatrava haveria de descrever metaforicamente, anos antes, a sua morte despida de metáforas...