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... nos últimos anos, ter assistido a tanta desgraça nos noticiários, desenvolvi uma espécie de capa que me “protege” das emoções mais fortes como a raiva e a tristeza. Apesar de me solidarizar com os dramas alheios, há muito que não deixo que me afetem ao ponto de chorar, até ontem...
... porra! Sou mãe! E só de imaginar o meu filho numa situação destas, vêm-me de imediato as lágrimas aos olhos. Que mundo é este?! Para onde caminhamos?! Como é que isto é possível?! Sou sensível ao argumento de que os imigrantes ilegais usam-se das próprias crianças para conseguir os seus intentos, mas foda-se, a única solução é esta?! Provocar este sofrimento atroz aos inocentes? A sério que não há outra forma de resolver a questão sem passar pela separação das crianças daqueles que elas acreditam serem os seus protetores?! É preciso ser-se tão cruel? Para quê? Para proteger um povo que acaba por morrer às mãos dos seus compatriotas com uma rajada de tiros? Até onde vai a hipocrisia, a ganância, a cegueira?! É tudo tão triste... tão revoltante!
... colega que tem um apartamento em Coimbra e resolveu arrenda-lo. Para isso, contratou os serviços de uma agência imobiliária. Pouco tempo depois recebeu um telefonema do agente imobiliário a dar-lhe conta que já havia encontrado candidatos para o apartamento.
"Já temos interessados no seu apartamento, mas há dois problemas..."
"Ai sim? E quais são os problemas?"
"São dois homens..."
"E então? Acha que não vão pagar a renda, é isso?"
"Não... até porque as pessoas deste "género" costumam ser honestas"
"Eeeerrr... então não há problema, não é?"
"E o outro problema é que um deles é preto..."
"Desculpe?!... Como assim, preto?...
"Beeeemmmm... é preto, mas está a preparar uma tese de doutoramento".
Mais tarde, na celebração do contrato de arrendamento, o agente pede os dados do casal e ao dar conta que cada um era casado, diz,
"Ah... eu preciso também das identificações dos cônjuges"
"Estão nas suas mãos, nós somos casados um com o outro."
Apesar deste surrealismo medieval, o apartamento foi arrendado ao casal e a minha colega diz que não poderia ter encontrado melhores inquilinos. No entanto, ficou chocada com a atitude do agente imobiliário e por ali viu o quanto complicado deve ser alguém assumir a sua orientação sexual em pleno século 21. Mandasse eu no mundo e pessoas como este orgulhoso heterossexual teriam ido dar uma voltinha no navio Monarch, para saberem o que é bom para o béfe... para a tosse!
... entro na euforia coletiva de partilhar vídeos e imagens virais chocantes nas redes sociais, porque não creio que isso mude seja o que for e porque às vezes essas partilhas são tão banalizadas que o efeito pretendido acaba por esmorecer e desaparecer. No ano passado, a imagem do corpo inerte do menino sírio que o mar devolveu à terra chocou-me como me choca a morte de qualquer criança. A imagem multiplicou-se até à exaustão na internet e na comunicação social, chamaram-lhe o símbolo do horror da guerra... para mim, representou apenas a consequência mais óbvia de uma guerra, a morte de inocentes, como tantas guerras na história da humanidade já demonstraram. Hoje, ao ver o novo vídeo viral, aprendi que a guerra não só mata inocentes como também lhes rouba a alma, e um corpo ainda que vivo mas esvaziado da sua alma não chora, não grita, não desespera... partilho desta vez porque as imagens me mostraram que é possível um pequeno inocente morrer e continuar a respirar, a mover-se, a fitar a câmara que o filma, a levar a mão à cabeça ensanguentada, olhar para ela e simplesmente limpá-la no estofo do banco como qualquer criança limpa a mão que sujou a comer um gelado...
"Mas as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor?!... Porque padecem assim?!..."