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... da Tamanca: diz que precisa de voltar para a santa terrinha (que fica a umas boas centenas de kms tanto de Lisboa como de Coimbra), mas que fica preocupada por deixar o Arquivo nas minhas mãos... AHAHAHAHAHAH... não posso... AHAHAHAHAHAH... ó... OHOHOHOHOH... pá... AHAHAHAHAHAH... ai que não me aguento... AHAHAHAHAHAH...
Ó filha, estrelinha que te guie e quando lá chegares, escreve a mandar saudades que é coisa que cá não deixas!
... povão: “quanto mais te abaixas, mais se te vê o rabo”, isto é bem verdade, posso atestar. Se há coisa que me incomoda no meu trabalho é não conseguir, por estar fora do meu alcance, dar resposta ao que me é pedido. Dou voltas de cadela, esfalfo-me toda com grande sacrifício pessoal para tentar satisfazer as necessidades dos meus colegas e eles sabem disso, por isso não sei porque carga de água tinha agora que me sair na rifa uma colega “madame” a exigir com toda a prepotência que lhe faça o milagre de desencantar aquilo não existe em lado nenhum. Se vocês vissem a maneira como falou para mim, até fiquei sem resposta... Sinto que estou a pagar a fatura de ter sido durante anos uma dócil solícita de sorriso nos lábios.
Não foi o povão, mas foi alguém que, há muitos anos num dos meus primeiros empregos, me disse “nunca dês o teu melhor, porque irão sempre exigir ainda mais de ti e aí já não terás mais nada para dar, então serás vista como um fracasso”, aqui a parvinha fez tábua rasa desta recomendação e agora fodeu-se...
... e ao fim de tantos anos na chafarica-mor, uma mesa de trabalho condigna. Assim, sim! Poder espalhar a papelada... já vos disse que adoro espalhar papéis? Tanto como gosto de os reunir. São os pequenos prazeres de uma arquivista, abrir processos e processos, como num trabalho de investigação policial, a seguir as pistas para chegar ao documento perdido, é simplesmente fabuloso, mas só para apreciadores, claro!
Resta-me pedir uma destas para cada poiso meu, as cadeiras também podem ficar assim, excelentes para não ter que arrastar a cadeira comigo sempre que mudo de processo!
... Quarentona, o que é ser Arquivista? É preservar e gerir a Memória das Pessoas e Instituições, lato sensu. Mas é também ter as mãos e a garganta permanentemente empoeiradas, é chegar a casa com elásticos nos pulsos, clips nos bolsos e, tantas vezes, as chaves dos depósitos de arquivo, é ter um mapa de localização dos arquivos e seus conteúdos na cabeça, é saber usar todo o tipo de bases de dados, é descobrir "agulhas em palheiros", é adivinhar o documento que as pessoas precisam e não sabem explicar qual é, é saber fazer equilibrismo em cima de escadotes bamboleantes, é cortar os dedos no papel, é picar-se nos agrafos enferrujados, é sofrer de dores nas costas por ter que levantar caixas pesadíssimas atoladas de papel, é ter a papelada de casa num completo caos, mas é sobretudo aturar gente iluminadíssima que acha que arquivar é só meter papéis dentro de pastas! Ah, por ordem cronológica, claro!
Ainda assim... já vos disse que adoro e que tenho um enorme orgulho naquilo que faço?!